sábado, 1 de janeiro de 2011

Parem as Máquinas! Será este o fim da Imprensa como nós conhecemos?

Não é somente a Indústria de Entretenimento que está paralisada perante a revolução que a Internet está causando neste inicio de século XXI. Os meios de comunicação de massa estão passando pelo mesmo problema. Mas de uma forma um pouco diferente. Enquanto a indústria de entretenimento vê a Internet como inimiga a ser destruída, os meios de massa estão usando como uma nova forma de fazer jornalismo. Agregando rádio, tv e impresso em seus websites contando também com abordagens diversificadas, diferentes do seu conteúdo oficial.

Porém, apesar desses benefícios, os meios de massa, tal qual a indústria de entretenimento, ambas vem amealhando algo em comum com a Internet: prejuízo. Enquanto este vem perdendo bilhões de cifrões por ano – contudo conta com apoio legalista constitucional para tentar minimizar e combater a pirataria e os arquivos para downloads, e ainda em alguns países projetos de lei vem dificultando a vida do usuário com penas jurídicas para barrar a baixa de arquivos – aquele não tem como frear a concorrência do conteúdo livre disponibilizado por concorrentes do ramo ou por usuários qualquer da web, restando somente a se adaptar aos novos ventos. Ventos estes que estão decretando em alguns casos o fim de tradicionais jornais de relevâncias em seus grotões, principalmente nos EUA aonde já começou em processo lento este declínio, com quedas nas circulações e receitas. Problema este que afeta a todos no ramo em todos os países.

Alguns afirmam com veemência, mas ainda é cedo – e presunçoso – demais ao decretar o fim do jornalismo impresso. Contudo, medidas já estão sendo tomadas.


Nos Eua o grupo NewsCorp. do empresário da mídia Rupert Murdoch, que em seu rol conta com a rede de tv Fox News e os diários Wall Street Journal e The Sun, divulgou recentemente planos para estancar a sangria. Cobrar por conteúdo online e retirar o nome do WSJ do Google. São medidas perigosas por dois motivos. Na Internet não existe a cultura de se pagar por algo, vide o sucesso dos programas de compartilhamento de arquivos, alvo dos verdadeiros problemas da indústria de entretenimento. Porém não há alternativa à longo prazo. Dilvanir Alves, editora-executiva do Diário da Borborema confirma que medidas parecidas podem ser tomadas por aqui. “Mão de obra de jornalista não é barata. E ai não tem só o jornalista, tem todo um complexo que se move para colocar o jornal na rua. Por exemplo, para se produzir uma noticia de cinco linhas você as vezes conta com telefone, ou de usar a net – gastando energia -, gastando luz. Ou seja, o gasto com a noticia é muito grande”. E gerar conteúdo sem gerar receita não é saudável nem para o jornalismo nem para o leitor à longo prazo.


Manifesto da Imprensa
Essa discussão foi tema recentemente na última reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) na qual foi divulgada a Declaração de Hamburgo. Reiterando o direito a propriedade intelectual, os signatários afirmam na declaração que “o acesso livre à web não significa necessariamente acesso livre de custos. Discordamos dos que afirmam que a liberdade de informação só será obtida com todos os conteúdos gratuitos. (...) Deve ser proibida a utilização, sem prévia autorização, da propriedade intelectual de terceiros”, concluindo com defesa a liberdade pois “na rede mundial de internet deve valer o princípio: não há democracia sem jornalismo independente.”

O documento foi assinado por todos os empresários do setor. Aqui no Brasil a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo representaram o país na cúpula.

A outra medida tomada por Murdorch foi retirar notícias do WSJ de agregadores de notícias como o Google e o Yahoo!. O Google dias depois da divulgação proposta por Murdoch resolveu mudar de camisa e passou a limitar o número de notícias agregadas no site.


No Brasil, assim como no exterior, a grande imprensa conseguiu usar a Internet como uma extensão do seu carro-chefe, por vezes até com mais fama na web que o próprio órgão originário, exemplo dos blogs de Ricardo Noblat (O Globo) e Reinaldo Azevedo (Veja). Mas são insuficientes para dar fôlego as vendas. As quedas também estão acontecendo em ritmo vertiginoso. Disponibilizar o conteúdo completo, por meio gratuito ou por meio de pagamento, em formato digital fac-símile dão sobrevida aos grandes órgãos. Mas essa prática, como dito acima, pode não durar muito. Os próprios jornaleiros são enfáticos ao afirmar que a Internet, menos que o preço e as assinaturas, afetou na queda de circulação. Orlando Dantas, dono da banca do Orlando, que a mais de 30 anos trabalha no ramo, confirma a tese. “Foi a Internet, com certeza”, e acrescenta que “nem as assinaturas diminuíram tanto a circulação em bancas de revistas, como agora.”

Perdendo Terreno, Mas...
Em censo realizado pela CNT/Census em 2008 divulgou o perfil dos leitores de hoje em dia em contraste com os de pouco anos atrás. Dos maiores de 35 anos, mais de 50% mantém-se fiel à leitura de jornais impressos, mas também utilizam a Internet, principalmente como forma de entretenimento. Enquanto os jovens de 15 a 25 anos são quase uma unanimidade em usar a Internet como meio de obter informações e de entretenimento. A dúvida que resta é, como trazer essa nova geração do digital para o real? Claudecir Ribeiro, redatora-chefe do Jornal da Paraíba, pontificou que “dificilmente eles lerão jornais à não ser na web”. Dito isto, como além de leitores, quem também está migrando para a rede e suas mídias sociais é a publicidade, resta garantir a fatia – e a independência do meio físico – na web “criando conteúdo diferenciado do veículo oficial”, ressalta Claudecir.


O jornalismo existe desde o século XVI. A partir da Revolução Francesa ela começou a ganhar respeito como instituição que a democracia deveria ter como garantia, principalmente seu livre exercício de crítica. Durante um bom tempo ainda servia como um instrumento de panfleto partidário. Durante o século XIX, começou a surgir na Europa e EUA uma imprensa profissionalizada, fiel aos fatos e relatos. A partir do século XX uma sucessiva onda de meios começaram a surgir. Primeiro o rádio, depois a televisão e por última a Internet. Ambos, com suas devidas proporções foram uma ameaça uns aos outros. Primeiro veio o rádio logo no inicio do século divulgando notícias rápidas e linguajar fácil atingindo leigos e cultos, analfabetos e intelectuais, ameaçando a hegemonia da imprensa pela primeira vez. O alarido foi enorme, também. Meio século mais tarde surge a Tv, com mais funcionalidades que ambos, porém limitada em conteúdo, servindo mais como peça de entretenimento quê de jornalismo. Mesmo assim, o sinal amarelo ficou aceso. E a imprensa mais uma vez teve que se reinventar – ganhando ares literários com o new journalism que até o fim da década de 70 foi predominante em boa parte da imprensa profissionalizada. E agora com a Internet? Qual passo seguir à frente, para não cair no mais do mesmo?
 
 
Professores e profissionais da área concordam que a Internet tomou de assalto a facilidade do rádio em repassar a notícia e a eficiência do imprenso em publicá-la. “Veio a internet e mostrou que aquilo ali qualquer um pode fazer e com mais velocidade do que o jornal”, exemplifica Dilvanir. O Que, quem, quando, aonde, como e porque, não servem mais ao impresso restando agora o jornal impresso tem que fazer a partir de agora é contar suas histórias de forma humana (...) aprender a contar histórias fascinem os leitores”, conclui Dilvanir. Ou seja, seria uma volta ao new journalism. Ou então “de trazer algo que a Internet não traga. No caso seria aprofundar a noticia”, afirma Leonardo Alves, professor da UEPB. Além da interpretação e opinião sempre presentes, é necessário nas redações tentar não adivinhar, mas por meio da lógica, procurar saber qual caminho aquele fato tomará de importante para o leitor.

Mas o possível calcanhar de Aquiles da Internet como fonte de informação vem de um fato mais técnico. Por ser visualizável – por enquanto – somente no computador, o ser humano, biologicamente falho, tendem a cansar. E é justamente esse cansaço que irá garantir a sobrevivência dos meios físicos perante o virtual. “O texto ainda é no computador e como é no computador cansa” assegura Moisés Alves, professor da UEPB. “Então uma forma de pensar em refazer o jornalismo é um jornalismo através de referências curtas, ou seja, fatos curtos” conclui ele.
 
Teorias Virtuais da Comunicação? Além de toda essa questão, como ficará as teorias da comunicação. Que acréscimo pode apresentar para uma evolução do próprio jornalismo. O professor Moisés ressalta que “você vai escrever mais pensando em interação. Hoje se fala de interação, mas uma interação que ela é na seguinte perspectiva: você redige em vista do outro. Do que esse outro vai conceber do seu texto. No futuro você vai ter que redigir não pensando no que o outro vai ler, ouvir ou ver, mas sim no que ele vai te responder. Porque se houver uma interação em tempo real o que vai acontecer”. Com o advento da Web 2.0 permite-se justamente isso. E o usuário não como coadjuvante, mas como protagonista ativo. Enviando e recebendo.
Andrew Keen, autor do livro Culto ao Amador, é um dos principais críticos dessa nova forma de distribuir informação. Entre seus ataques, está a hipótese de que medíocres estão tomando lugar dos qualificados e vendendo gato por lebre. A indústria de entretenimento tem lucrado alguns dividendos com isso. Mas quanto ao jornalismo isso estaria gerando má informação, principalmente desinformação. O que leva ao ponto final, de que este realmente pode ser o fim da imprensa, não só pela questão financeira, mas de conteúdo também. O usuário embevecido pela quantidade de informação presente na web sem se importar pela qualidade do fornecedor estaria abrigando sem querer o ovo da serpente. Assim como o declínio do Império Romano se deu por medidas que fragilizaram suas bases e posteriormente facilitou a invasão pelos bárbaros, o mesmo pode estar acontecendo.

O que pode ser simplesmente uma teoria radical, não quer dizer que não possa haver. O futuro ninguém sabe. Mas uma conscientização do usuário leitor pode ser definitiva. “Se a gente vive numa sociedade, se a sociedade na era da informação for muito imediatista, pode acontecer isso”, preocupa-se Moisés, “não vou dizer que não pode acontecer por conta de que? Como você é imediatista, consumista você vai querer um produto rápido. E a Internet esta sempre a mão você pode usufruir desse meio. Mas se você for uma pessoa que esteja com um grau de profundidade que você queira se aprofundar nos fatos então o meio impresso não vai deixar de ter sua existência por conta disso”, conclui.

Como colocado anteriormente, a comunicação quando vê-se ameaçada, consegue se reinventar e adaptar-se aos novos ventos. O que há de tanto de histeria poderá gerar respostar e soluções tanto em questão de espaço perdido como capital abandonado.

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