sábado, 1 de janeiro de 2011

A Classe Artística da Feira Central

Por trás de uma barraca de carnes e miudezas, reside escondido nos interiores da Feira Central o ponto que antigos e novos boêmios, poetas anônimos de cantoria popular e cidadãos comuns freqüentam costumeiramente à procura de um pouco de diversão e despreendimento do dia-dia. Engana-se quem imaginou alguns dos famosos cabarés que deram contornos românticos de outrora e tons marginais atualmente. O local em questão é o Bar de Teresa. Estável naquele local já há um bom tempo, tão certo como missa dia de domingo, são os repentistas que descompromissados, vão ao local cantar suas redondilhas improvisadas à espera de um público minguado, na maioria das vezes compostos de amigos e colegas de profissão (e lógico, alguns bêbados desavisados), na mais complexa arte de musicar sem ensaio, melodias ternas e sinceras sobre causos e contos da vida cotidiana, em um ping-pong que nos fazem abrir um sorriso sincero frente às rimas construídas espontaneamente.
 
Vindos normalmente de uma criação sem fartos bens-materiais, sertanejos antes de tudo, muitos dos repentistas começaram suas vidas artísticas ainda quando crianças, tocando em bares e cabarés da vida acompanhando os país ou amigos nas bandas. Sem ensino fundamental sequer finalizado, aprenderam o oficio na mais simples arte da prática e do esforço mental. Diferente dos outros tempos, todos os repentistas hoje não tocam na aventura de ganhar um trocado e conseguir viver com esse dinheiro o resto do dia. Todos hoje, principalmente os mais velhos, são ou aposentados ou quando fazem apresentações, normalmente são em eventos patrocinados, onde tem sua verba garantida sem preocupação nenhuma se vai ser o suficiente ou não para comprar um prato de comida, como antigamente.

Enfurtados numa pequena sala de bar, vendendo CDs e DVDs com suas obras completas, esperando conseguir mais do que uma simples cerveja paga pelos clientes, digladiam-se dois repentistas entrando verso e saindo verso, embolados pelo som da viola que nos remetem às cidadelas do interior nordestino, contando e cantando folclores, amores perdidos e brigas enfrentadas, sempre em primeira pessoa, ora zoando ora louvando o outro seja pela sua bravura ou sua covardia no momento relatado. Simpáticos, seja pela conveniência de agradar o ouvinte ou pela natureza pessoal, tentam tornar o ambiente agradável, improvisando nas letras palavras de honra e carinho aos visitantes não acostumados ao ambiente novo.

Obs: Esse textículo é um breve relato sobre as impressões e rápidas conversas tidas com os repentistas da aérea no dia da minha visita a Feira Central de Campina Grande. O clima e o ambiente em desgaste da área preservam, acima de tudo, a dignidade dos artistas que tocam somente pelo prazer do ofício, sem grandes ambições artísticas.

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