sábado, 1 de janeiro de 2011

Os Pecados de Hollywood

Texto publicado originalmente na Revista Claquete #1

Foi confirmado há algumas semanas atrás o reinício da franquia Homem-Aranha, com novo elenco e direção, programado para estrear ainda em 2012. A trilogia original, com Tobey Maguire no papel de Peter Parker e Sam Raime como diretor, foi um sucesso de crítica e público, conquistando os três filmes mais de 1 bilhão de dólares na bilheteria. Mas não somente a isso se restringe o legado do aracnídeo. Graças a ele uma nova fase na cultura pop foi dada largada. A dos filmes baseados em quadrinhos sem ter que desvirtuar a obra original para ter que agradar aos leigos, tendo seu ápice atingido com Batman – O Cavaleiro das Trevas.

Mas o ponto central deste artigo não trata sobre espólios e bilheterias. E sim sobre Hollywood. Mais precisamente como a indústria cinematográfica americana destrói legados de filmes impecáveis com suas seqüências, se atrofia em criatividade e abusa do talento de jovens cineastas se aproveitando de seu nome para gerar um hype em cima da obra. E a retomada da franquia Homem-Aranha contém todos esses elementos ditos acima.


Sobre Legados e Seqüências – Vamos excluir deste tópico continuações naturais (O Senhor dos Anéis; Kill Bill...) e temáticas (Trilogia das Cores, dos Dólares, da Vingança), e focar somente nas que surgiram por pressão econômica.
The Dark Knight (2008): Uma das poucas sequências que valem a pena
Hoje em dia não há um ator que assine um contrato para um filme cotado para ser blockbuster sem que não tenha mais dois filmes postos na clausula. Seqüências são por natureza mais anabolizadas que a original. Tem que ter duas vezes mais efeitos especiais, mais cenas de ação, de romance e de atores. Relegando o roteiro para o segundo plano. Ou seja, o que o filme antes tinha de brilhante por sua história envolvente e original, passa a ser somente mais do mesmo em que as qualidades técnicas passam a ser as estrelas maiores. 

Continuações são os exemplos mais perfeito de caça-níquel. O que havia se encerrado de forma satisfatória e brilhante no primeiro, será necessário agora inventar algo forçosamente para lucrar mais um pouco em cima do legado. A maioria não chega nem aos pés do original, mas apesar de tudo gera lucro perante o público menos exigente que vê o filme simplesmente como um passa-tempo. As exceções à regra são bastantes conhecidas e bem avaliadas no modo geral (A Noiva de Frankstein, Homem-Aranha 2, O Poderoso Chefão 2, Batman – O Cavaleiro das Trevas, O Império Contra-Ataca). Porém uma pesquisa bem aprofundada confirma que são somente exceções. E os gêneros mais fatalmente apunhalados por seqüências – a comédia, o terror e a ação – comprovam que aquele filme visto com desconfiança no estúdio teve seu ápice no primeiro filme (Matrix, Pânico, A Hora do Pesadelo, Jogos Mortais, Todo Mundo em Pânico, Máquina Mortífera, Os Caçadores da Arca Perdida).
Continuação caça-níquel de O Mágico de Oz
A tara hollywoodiana por seqüências para lucrar um poucos mais é tanta que recentemente já foi cogitada uma continuação para o Mágico de Oz (1939). Filme este que em 1985, 46 anos depois do lançamento original, ganhou uma segunda parte chamada O Mundo Fantástico de Oz (Return to Oz). No filme O Jogador (The Player, 1992), Robert Altman ironiza esse vício da indústria cinematográfica. Durante o incrível plano-sequencia inicial pode-se ouvir dois executivos planejando uma inexplicável continuação para A Primeira Noite de um Homem, 25 anos depois com Julia Roberts no papel da filha de Mrs. Robbison.

Essa brincadeira de Altman contém um fundo de verdade. A falta de idéias para propor algo novo. Restando se limitar ao comodismo de lucrar em cima de um sucesso anterior gerando mais um seqüência desnecessária. Criar histórias novas e envolventes não é fácil. Principalmente hoje em dia, onde praticamente tudo de interessante foi inventado (a priori). E investir em algo arriscado é temeroso para os engravatados. Então resolvem apostar no mais do mesmo, com seus resultados já conhecidos. E aí reside no erro, principalmente quando a aposta é um blockbuster. Geralmente gera prejuízo e só se recupera no circuito estrangeiro e na venda de Dvd’s.

Diferente de todas as outras no modus operandi, a Pixar não cai nesse erro banal. Desde que surgiu, ela investe na criatividade e na inovação, com resultados incríveis. Tanto financeiramente como artisticamente.

E quanto aos diretores talentosos, mas pouco conhecido do público americano, resta lamentar. Marc Webb, diretor do filme indie sensação do ano passado 500 Dias com Ela (500 Days of Summer) foi contratado para dirigir a nova super produção do Homem-Aranha, e pode acabar caindo numa armadilha clássica que os engravatados hollywoodianos vez por outra armam para diretores talentosos. Embevecidos pela quantidade de dinheiro oferecida e pelas possibilidades artísticas que podem tirar dessa dinherama, acabam aceitando sem pestanejar. Nunca dá certo. Normalmente quem acaba tomando conta do filme é o produtor, interferindo diretamente sempre que pode, temendo as inovações artísticas daquele diretor “tão exótico”, que não sabe porque o contratou mesmo sabendo de seu estilo.

O perigo é o diretor acabar assinando com o famigerado pseudônimo Alan Smithee. Nome este que alguns diretores preteridos em suas obras acabam utilizando quando não se sentem representados em seus projetos. Como foi o caso de David Lynch (com Duna), Dennis Hooper (com Atraídas pelo Desejo) e até John Frankenheimer (com Riviera).

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