sábado, 26 de fevereiro de 2011

Programa do Jô e as entrevistas perdidas



Escrito há 3 anos para trabalho acadêmico. O conteúdo é antigo, mas o crítica ainda é atual. Boa leitura.

* * *

O Programa do Jô, exibido de segunda à sexta nas madrugadas da Rede Globo, logo após o Jornal da Globo contou na noite desta segunda-feira (02 de junho de 2008), com as presenças do cantor Lulu Santos e da cineasta Lílian Santiago.

Com o visual do seu programa idêntico ao talk-show norte-americano de David Letterman, o ator e comediante Jô Soares vem perdendo seu público fiel e sendo destratado pelos críticas graças as já não tão engraçadas piadas contadas diariamente e oportunidades perdidas com os entrevistados, fazendo perguntas triviais e de pouco interesse para todos, sem contar o fato de sua “arrogância” não deixar, por muitas vezes acontecidas, o entrevistador falar. A audiência já não é mais a mesma. Tempos atrás chegou a ficar em segundo lugar ao competir com o medíocre programa de João Kleber.

Neste dia, Jô iniciou o programa com a apresentação de Lulu Santos, cantando uma espécie de pop-funk music, que é uma música totalmente diferente de tudo o que ele já havia feito até hoje. A entrevista continuou no bloco seguinte. Nela, diferente das críticas costumas, Jo não seguiu com trivialidades, perguntas sem motivos e que não corresponda com o entrevistado. Curiosidades sobre o videoclipe gravado por Lulu Santos em gravidade zero, detalhes sobre a longeva carreira do cantor, dificuldades enfrentadas no inicio de carreira foram todas abordadas. O que deve ter ajudado ainda mais no desenrolar da entrevista foi a longeva amizade existente entre ambos. E aí é que deve estar o motivo de críticas de alguns. Tanto para bem como para o mal.

Percebe-se ao longo dos programas exibidos que as melhores entrevistas feitas por Jô são aquelas em que ele conhece o entrevistado a um bom tempo, independente da área de atuação dele ser de conhecimento do apresentador. Sabendo já por antemão o que perguntar e o que falar, até o clima das piadas fica mais interessante e sem parecer provocador. Quem assiste ao programa a um bom tempo nota isso. Quando alguém que ele nunca ouviu falar e na maioria dos casos é um anônimo famoso qualquer de alguma cidade desinteressante, as coisas não andam tão bem. Um exemplo foi o que ocorreu programas atrás. O cantor bizarro de estilo irreconhecível paraibano, de Guarabira, Ednaldo Pereira foi ao programa e o que se viu foi um entrevistador que não sabia o que perguntar e o entrevistado que não dizia coisa com coisa. E ficou naquele vai e vem, de perguntas obtidas de curiosidades conseguida no camarim antes do programa. A única parte interessante veio do cantor que ganhou a simpatia do público com suas músicas bizarras e non-senses e de sua performance que lembre o cantor Jorge Marral.

Lulu Santos, que sempre teve fama de chato e de pouca paciência demonstrava isso com a platéia do programa. Soando sarcástico e irônico pediu que o público não cantasse com ele na música Tempos Modernos. “Tem coisas que devem ser cantadas e outras que devem ser ouvidas”, disse Lulu com toda simpatia. Em outra ocasião ironizou o bom humor da platéia porque riram de uma inverdade dita por ele de propósito, no caso do clipe gravado em gravidade zero, na qual ele disse que não vomitou, seguido por um uníssono “aahh” do público, para logo depois dizer que vomitou “para a felicidade de vocês”.

Com esse clima de compadrio no ar que Jô mantém com entrevistados amigos/conhecidos também tem seu lado ruim. Ele perde em muitas vezes a oportunidade de ser mais duro e pertinente nas perguntas, principalmente quando políticos vêm ao programa.

Tempos atrás perdeu uma ótima chance de pedir esclarecimentos mais concisos sobre o Caso do Dossiê Falso e os problemas que o PAC enfrenta com a ex-Ministra da Casa Civil e atual presidente da república Dilma Rousseff, optando por falar do seu passado como guerrilheira na VAR-Palmares. Sobre o PAC e o Dossiê pouco, quase nada.

Na última entrevista do dia, a cineasta Lílian Santiago foi falar sobre seu trabalho no cinema, como atriz (pequenas participações especiais como figurante) e sobre seu primeiro trabalho que esta sendo lançado, o documentário “Balé de Pé no Chão”, contando a carreira da dançarina Mercedes Batista. Velha conhecida de Jô, essa entrevista também é marcada pelo bom humor de ambos e histórias curiosas sobre o passado de Santiago. Seu pai, que havia trabalhado com Jô nos anos 60 na Standart Propaganda esteve sempre presente na entrevista. Uma boa entrevista, só que muito pessoal, porém não tornando monótono e desinteressante para o resto. É um dos pecados cometido por ele, tornar íntima entrevista com amigos. Mas desta vez nada que atrapalhe.

Apesar de passar no início da madrugada, o Programa do Jô ainda é um dos poucos programas assistíveis da TV aberta atualmente. A despeito dos tropeços ditos acima, não chega a interferir por completo o programa. O bom humor é sempre presente, e entrevistados seguem pelo mesmo caminho. Erros acontecem, mas dentro da média, ao contrário do que seus detratores costumam dizer.

Nenhum comentário: