sábado, 27 de junho de 2020

Chicha


Chicha, bebida alcoólica indígena, produzida a partir da fermentação do milho.

Disponível em: https://web.archive.org/web/20110818173356/http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/pt/servicos/novidades00.htm

CHICA. bebida indígena, fermenta ou semi-fermentada, preparada pelas tribos guatós, que habitam terras das cercanias da lagoa Uberaba e dos caudais formadores do alto Paraguai, entre os dois estados de Mato Grosso, próximo à fronteira com a Bolívia. Supõe Lima (1975) que os aborígines obtêm a chicha com seiva extraída do coqueiro jerivá, syagras romanzoffiana (Chamisso) Glassman. Não se pode aceitar tal afirmativa sem reparo, porque aquelas vastas terras, francamente pantaneiras, não são habitat do coqueiro jerivá. Mais verossímil é admitir que os guatós preparem a chicha da seiva de outras palmeiras, dos curis, muito provavelmente, que ali abundam em grande capões, os conhecidos acurizais, formados em sua maioria por duas palmeiras do gênero Scheelea, vulgarmente também denominadas guacuri e canguri, a saber: 1) S. princeps Karst (Attalea princeps. Mart.), palmeira alta, de estirpe inerme, que atinge 10-18m; 2) S. phalerata (Mart.) Burret, de caule baixo, de no máximo 3m de altura. Em qualquer dos casos, a seiva é extraída mediante escavações praticadas na parte superior do estipe, junto à copa. O suco flui para os depósitos formados pelas escavações e neles se ajunta em forma de líquido espesso, leitoso e de bom sabor, que a tribo chupa com avidez, servindo-se de canudos. A chicha é sempre fermentada ou semi-fermentada.

Enciclópedia Agrícola Brasileira. EDUSP, 1998. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=RCyZWhMgTiAC&pg=PT307&lpg=PT307&dq=chicha+bebida+paraguaia&source=bl&ots=ss529XLjsR&sig=PNxUANqomnEzlip8gMYR9XHFvSc&hl=pt-BR&sa=X&ei=6dyYU7XEEravsQTh0IGwBQ#v=onepage&q=chicha%20bebida%20paraguaia&f=false

O segredo da cura da humanidade


Conta uma lenda que, nos primórdios da história da terra, houve uma grande conferência de todos animais existentes, em protesto contra a atitude devastadora e ignorante do Homem diante do meio ambiente. "A natureza é a grande mãe de todos os bichos e o homem deseja submetê-la aos seus caprichos", denunciou a serpente, cobrando uma atitude de todos. "A única forma é fazê-lo sentir na própria pele o efeito de seus atos, mesmo que isso leve muitas gerações", ponderou o Coiote. E assim ficou decidido que cada animal se transformaria em uma doença humana (o Leão seria os males do coração; o Elefante, a obesidade; os Equinos, as doenças de pele). E quanto mais o Homem destruísse a natureza, mais ele seria vítima da vingança dos espíritos animais, na forma de doenças. Segundo a lenda, então, o mundo vegetal sentiu compaixão pelo Homem e decidiu ajuda-lo. E as plantas se transformaram em remédios, uma para cada tipo de doença gerada pelos instintos animais. As plantas mais nobres, o cipó jagube e a folha rainha, foi dada a missão de despertar a consciência, para que um dia o Homem aprendesse a viver em harmonia com a terra e cumprisse seu destino.


BOLSHAW, Marcelo. O que é o Santo Daime? Disponível em: https://www.academia.edu/29364404/O_que_%C3%A9_o_Santo_Daime


segunda-feira, 4 de maio de 2020

A História da Hoasca

por Rosa Virgínia Melo, de acordo com a narrativa da União do Vegetal (UDV)
Antes do dilúvio universal havia um Rei chamado Inca que governava com sabedoria, graças aos conselhos de sua misteriosa Conselheira Hoasca, que tudo sabia. Um dia Hoasca morreu e o Rei, desconsolado, sepultou-a. Nasceu na sepultura de Hoasca uma árvore que o Rei julgou ser Hoasca, assim denominando-a. Fez um chá da folha da árvore e o deu de beber ao seu marechal Tiuaco, na tentativa de que este descobrisse os segredos da Conselheira. Sentindo a presença de Hoasca, Tiuaco não resistiu e morreu. Foi sepultado ao lado da Conselheira do Rei, onde nasceu um cipó. O reinado, após a morte de Rei, virou uma tapera.

Muito tempo se passou e Salomão, Rei da Ciência, ouviu a história do Rei Inca e de sua Conselheira e foi, acompanhado de seu vassalo Caiano, ao encontro das sepulturas. Encontrou lá nascidos árvore e cipó, reconheceu-os como Hoasca e Tiuaco. Salomão anunciou a união dos vegetais e clamou: “o mariri nos dará força e a chacrona nos dará luz”.

Salomão ensinou a Caiano os mistérios da natureza divina. Fez um chá e, com palavras imperiosas para que se encontrasse com os poderes de Hoasca, ofereceu-o a Caiano. Caiano bebeu o vegetal, sentiu a força de Hoasca aproximar-se, começou a sufocar e, confome ensinamentos de Salomão, “chamou” por Tiuaco, “o grande rei no salão do vegetal”. Caiano aprendeu também os segredos da natureza divina, mas somente mediante poderes do pedido, capaz de abrir-lhe os encantos da Minguarana, tornando-se “o primeiro hoasqueiro”.

Tempos depois, o espírito de Caiano retornou no Peru, com o nome de Iagora, a quem todos chamam na hora da necessidade. Iagora é um imperador indígena nascido depois de Cristo e que “chama” por Jesus e pela Virgem da Conceição. Conhecido como Rei Inca porque contava a história do Rei Inca e de sua Conselheira Hoasca, Iagora foi degolado por discípulos que se revoltaram e seguiram pelo mundo, originando os “mestres de curiosidade”, desprovidos de “conhecimento”.

O retorno do espírito em sua quarta encarnação aconteceu na Bahia, e José Gabriel, homem simples do povo vivendo no seringal amazônico, “recorda-se” de sua “missão”: a de “equilibrar o vegetal”. Torna-se Mestre, abre “o oratório com o divino Espírito Santo”, e esclarece que oratório é para orar, explicar, falar o que é preciso. Ensina que, quando precisamos, chamamos: “eu chamo Caiano, chamo burracheira”. Contudo, Gabriel ensina, mas não chama, porque “Caiano sou eu, a burracheira é eu...”. Ao fim da narrativa tem-se, na voz do Mestre: “burracheira quer dizer força estranha, é por isso que eu não tenho burracheira... porque eu sou a burracheira e não existe coisa estranha para mim...”.
Rosa Virgínia Melo, « Encantamento e disciplina na União do Vegetal », Anuário Antropológico [Online], I | 2013, posto online no dia 01 outubro 2013, consultado no dia 04 maio 2020. URL: http://journals.openedition.org/aa/459; DOI: https://doi.org/10.4000/aa.459